Para ler Lobato

Texto: Site da Revista Nova Escola

Ele foi o pioneiro da Literatura Infantil Brasileira

Nenhum autor é tão representativo da literatura infantil brasileira do século 20 quanto Monteiro Lobato. Seu primeiro livro para crianças, A Menina do Narizinho Arrebitado, foi publicado em 1920 e, desde então, sua fantasia já atravessou décadas e segue para a terceira geração de leitores, em várias re-edições e até adaptações para a televisão, do mundo hiperrealístico do Sítio do Pica-pau Amarelo.

Nesse lugar fantástico acontecem as aventuras de Narizinho e Pedrinho na companhia de Visconde de Sabugosa, um sabugo de milho que era um sábio, Emília, uma boneca de pano falante, Quindim, um rinoceronte domesticado e Rabicó, um porco com título de marquês. Tudo sob a tutela de uma ama negra superprotetora, Tia Nastácia, e de Dona Benta, a avó das crianças. Vislumbrado pela literatura infantil mundial, Lobato fez também Peter Pan, Alice, personagens da mitologia e até o Gato Félix passearem pelo Sítio.

Por meio de linhas inventivas ou críticas, o escritor retratou um Brasil cultural e socialmente atrasado e, ao mesmo tempo, deixou-se também levar pela fantasia do imaginário infantil, no qual criou seu maior legado à literatura brasileira: a possibilidade de criar o impossível.

Biografia

Nascido em 18 de abril de 1882, em Taubaté, no Vale do Paraíba (interior de São Paulo), José Renato Monteiro Lobato – que, mais tarde resolveu mudar sou nome para José Bento Monteiro Lobato – já demonstrava gosto pela leitura e pela escrita desde os tempos de escola, escrevendo para jornaizinhos acadêmicos quando adolescente.

Perdeu o pai aos 15 anos e a mãe, aos 16. Seguindo a vontade do avô, concluiu os estudos e cursou Direito na Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo.

Foi nomeado promotor público na cidade de Areias, no interior do estado, mas não exerceu a função por muito tempo. Após a morte do avô, mudou-se para Buquira (hoje Monteiro Lobato), para morar em uma fazenda que herdara.

Ali iniciou sua projeção como grande escritor. Com base em personagens reais, criou o mundo fantástico do Sítio do Pica-Pau Amarelo e fez a denúncia da exclusão social com artigos para o jornal O Estado de S. Paulo. Esses textos, protagonizados pela figura de Jeca Tatu, formariam seu primeiro livro Urupês, em 1918.

Entediado com a vida na fazenda e sem o rendimento esperado, vendeu a propriedade e comprou a Revista do Brasil, abrindo espaço para novos nomes da literatura mostrarem seu trabalho. Com o grande fluxo de trabalhos, o negócio cresceu e virou editora, mas fechou as portas anos mais tarde, em 1925, devido à crise da indústria nacional e clima político instável da época.

Após um breve período nos Estados Unidos a serviço do governo de Washington Luís, voltou para o Brasil e iniciou uma luta em defesa do petróleo e do ferro com forte cunho nacionalista e crítico ao governo de Getúlio Vargas, o que lhe rendeu três meses na cadeia em 1940, além da apreensão e destruição de algumas obras à venda.

Em meio a um clima político pesado e sob a censura, Monteiro Lobato se aproximou dos comunistas liderados por Luís Carlos Prestes. Foi à Argentina lançar alguma de suas obras e voltou ao país em 1947. Faleceu no ano seguinte, aos 66 anos, vítima de um derrame, deixando como herança mais de 30 livros publicados, uma obra reverenciada até hoje.

Sugestões de Leitura:

Reinações de Narizinho – Primeiro livro de uma série protagonizada pelos personagens do Sítio do Picapau Amarelo. É aqui que Emília, a boneca de pano, ganha vida, enquanto Pedrinho e Narizinho brincam no sítio da avó, Benta. Outros seres também entram nas histórias fantásticas, como o sábio sabugo de milho, o porco marquês e o burro falante. Considerada a obra-prima da série infantil de Monteiro Lobato, Reinações reúne os textos que abrem o mundo do Sítio para as crianças.

O Saci – Neste livro Monteiro Lobato conta a aventura de Pedrinho que, ao jogar uma peneira sobre um redemoinho de vento, captura um saci e o aprisiona em uma garrafa. Em troca de liberdade, o diabinho leva o menino para uma aventura pela mata durante a noite. Pedrinho, então, conhece a Mula-sem-cabeça, o Caipora, o Boitatá e outras figuras mitológicas. Tendo como protagonista uma das figuras mais populares do folclore brasileiro, esta obra mantém as lendas brasileiras no imaginário das crianças de hoje

Memórias de Emília – Para montar um livro de memórias – inventadas, é claro -, a boneca de pano criada por Monteiro Lobato conta com a ajuda do sábio Visconde de Sabugosa, que serve como escriba das aventuras de Emília junto dos personagens do Sítio do Picapau Amarelo. Ela relata ao Visconde histórias desde o seu nascimento, em meio aos retalhos de Tia Nastácia, até episódios fantásticos, que envolvem personagens como o anjinho da asa quebrada, Peter Pan, Popeye e a atriz-mirim Shirley Temple. Um clássico de Lobato, escrito em 1936

Caçadas de Pedrinho– Esta, que é uma das histórias mais conhecidas de Monteiro Lobato, conta a aventura das crianças que adentram as matas do Sítio do Pica-Pau Amarelo em busca da maior onça da região. Mas, depois matá-la, os personagens têm de enfrentar a fúria das outras onças da floresta, usando a criatividade para escapar. A jornada ainda rende um encontro inusitado com um rinoceronte muito manso, que também passa a morar no Sítio.