Destaques de Fevereiro

Conheça os homenageados da nossa campanha Alagoanos que nos Orgulham: o escritor Graciliano Ramos e a rendeira Clarice Severiano são as personalidades do mês de fevereiro.

Texto produzido para a agenda escolar Espaço Educar 2015, Claudia Lins

Graciliano Ramos

No dia 27 de outubro de 1892 a pequena Quebrangulo, no interior de Alagoas, via nascer seu cidadão mais ilustre. Mas naquela cidadezinha, escondida entre os montes, Graciliano só viveria até os três anos de idade. Logo sua família partiria em busca de oportunidades no sertão de Pernambuco. Na nova casa, numa fazenda no meio da caatinga, ele cresceu em meio a uma natureza selvagem, descobrindo um mundo difícil e áspero. A escola rural trouxe duras lições ensinadas na base da palmatória, o tempo da seca fez o menino chorar de sede, mas também o ensinou a ver o mundo com olhos de transformação.

O escritor Graciliano Ramos, ilustração do alagoano Fellipe Ernesto
O escritor Graciliano Ramos, ilustração do alagoano Fellipe Ernesto

Alguns anos depois, a família foi viver na cidade de Buíque (PE), onde o pai, seu Sebastião, tornou-se comerciante de tecidos. Graciliano cresceu tímido, imaginando muitas histórias e desejando a sorte dos moleques que podiam brincar na rua com seus carrinhos de lata. Não se dava muito bem com as cartilhas e letras, incomodava os adultos com suas perguntas e sofria com uma doença nos olhos que o fez ficar anos longe da escola.

A vida começou a mudar de verdade, quando a família voltou para Alagoas, desta vez fincando raízes na cidade de Viçosa. Na adolescência descobriu um tesouro: a biblioteca de seu Jerônimo, onde aprendeu a gostar de ler e não parou mais de devorar livros. Aos 12 anos fundou seu próprio jornalzinho. Aos 14, já escrevia para jornais e revistas de Maceió e do Rio de Janeiro, na época capital do Brasil. Homem feito e com família, virou escritor reconhecido nacionalmente, elegeu-se prefeito do município de Palmeira dos Índios. Sua passagem pela política virou símbolo de honestidade para os brasileiros, pois seu relatório de prestação de contas inspiraria no futuro a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Escreveu os livros: Caetés (1933), São Bernardo (1934), Angústia (1936), Vidas Secas (1938), A terra dos Meninos Pelados (1939), Infância (1945), Insônia (1947) e Memórias do Cárcere (1953), publicado no mesmo ano de sua morte.

Clarice Severiano

Ela nasceu em 16 de outubro de 1934, no município de São Sebastião. Ainda menina aprendeu com a mãe o ofício de rendar. As mãos, sempre talentosas e determinadas a fiar sobre o tecido rústico, criaram inúmeras peças de rendedê, um tipo de artesanato que ela ajudou a popularizar em sua região.

Dona Clarice, como era conhecida na associação das rendeiras de sua comunidade, se orgulhava dos desenhos que transformava em pontos padronizados e davam identidade a renda produzida em São Sebastião. Graças a seu trabalho como mestra artesã, a cidade onde nasceu foi condecorada com o título de a “Capital dos bilros de Alagoas”.

A rendeira Clarice Severiano, ilustração Fellipe Ernesto
A rendeira Clarice Severiano, ilustração Fellipe Ernesto

Enquanto viveu e cultivou sua arte, foi tecendo o destino de sua gente, repassando a gerações de mulheres a tradição herdada dos antepassados. Filhas, netas e vizinhas, com ela aprenderam a rendar. Participou de oficinas transmitindo seus conhecimentos para mulheres de outras regiões do estado. No ano de 2008, recebeu o título de Patrimônio Vivo da Cultura de Alagoas, integrando a lista de mestres da cultura popular imaterial.

Morreu aos 70 anos, mas sua história continuará viva, enquanto persistir a tradição da renda de bilro.