1º de Abril – Dia da mentira

Fonte: Mentira varia conforme a idade da criança (Revista Crescer)

“-John, o que você está comendo?
– Nada, mãe.
– Por que o saco de confete está vazio? Você comeu?
– Não, não comi nada.”

E John, de apenas três anos, teria se saído muito bem se não fosse seu rosto estar completamente sujo de confetes. A situação ilustra bem o que toda mãe, mais cedo ou mais tarde, precisa enfrentar: a mentira. E antes de pensar em como agir, é importante saber que a mentira evoluí conforme a idade da criança. Confira as dicas de Bruno Jardini Mader, psicólogo infantil do Hospital Pequeno Príncipe (PR), para lidar da melhor maneira com essa situação:

dia da mentira - pinoquio

A partir dos 2 anos
A mentira começa junto com a possibilidade de organizar pensamentos, por isso, a partir do segundo ano de vida, a criança já usa a imaginação com esse fim, o que pode ser confundido com fantasia. “A mentira é denominada assim por adultos, mas crianças nessa idade usam a narrativa inventada muitas vezes sem saber que aquilo não corresponde à realidade. Se ela faz uma coisa errada e nega para os adultos, por exemplo, o que ela está falando é que queria que aquilo não tivesse acontecido. Não dá para chamar de mentira propriamente dita, porque dificilmente há juízo de valor”, explica o psicólogo.

Por isso, os pais podem se sentir desconfortáveis em chamar a atenção da criança. É compreensível, mas pouco eficiente. Ter uma postura omissa dificilmente vai ajudar a criança a entender que existem limites entre a realidade e a fantasia. Para driblar esse tipo de mentira e ajudar seu filho a compreendê-la, a dica do especialista é “trazer a situação para o concreto”. Se a criança quebrou um vaso e nega, por exemplo, os pais podem explicar que aquela peça tinha a função dela dentro do ambiente da casa e que agora que quebrou, as flores vão ficar sem lugar para ficar. Faça a criança entender as consequências de seus atos.

A partir dos 6 anos
Aqui a criança já tem o pensamento mais estruturado. É a idade em que começa a alfabetização, a compreensão de símbolos e códigos socialmente aceitáveis. Ela já começa a ter boa noção de certo e errado e, muitas vezes, recorre à mentira para escapar de uma punição que considera mais severa. É a fase em que ela também começa a desenvolver certa malandragem e malícia.

A dica aqui é perceber o contexto em que a criança mentiu. “Se os pais conseguem perceber mentiras constantes, medidas punitivas não são ruins, desde a criança entenda o porquê está sendo punida. A família pode mostrar que aquilo atinge a moral, explicar que esse tipo de comportamento pode trazer prejuízos para as pessoas, como deixá-las tristes, por exemplo”, diz Mader.

Outra dica é não deixar que a mentira se torne algo sem consequências, em que a criança faz, os pais chamam a atenção e tudo fica por isso mesmo. “Os pais precisam perceber que a honestidade é uma coisa a ser desenvolvida na criança e até mesmo nos próprios pais. Coisas erradas precisam ser lembradas e explicadas até que aquilo entre na cabeça das crianças”, explica o psicólogo.

Mas, na hora de chamar a atenção: cuidado. Se omissão diante da mentira é ruim, o autoritarismo puro também não contribui muito para a educação, uma vez que não exige uma auto-reflexão e pode, entre outras coisas, inibir a imaginação, que é sempre necessária para um desenvolvimento saudável do cérebro. Seja firme, mas demonstre empatia, mostre que compreende que seu filho não teve a intenção de fazer algo ruim e explique que às vezes nossas atitudes ser ruins para outras pessoas e que é por isso que devemos pensar antes de agir ou falar.

Nessa fase as habilidades sociais das crianças estão mais avançadas. Aliado a isso, as relações com os amigos começam a mudar e a despertar interesses diferentes. Surgem as necessidades de sociabilidade, popularidade, autoafirmação. A combinação desses fatores resulta em ações da criança para conseguir o que quer, recorrendo muitas vezes, à mentira como um dos artifícios.

É nessa época, por exemplo, que seu filho pode mentir que vai dormir na casa de um amigo, quando, na verdade, vai a uma festa. Ou então, se envolve em brigas para se impor no grupo de amigos e, quando questionado, nega ou tenta encontrar outros culpados.

Por isso, Jardini explica que os pais precisam entender esse momento do filho antes de partir para os castigos e proibições como punição. “Dificilmente a criança age para magoar os pais, geralmente está mais ligada à pressões sociais. E é preciso que haja a autoafirmação da criança, isso também faz parte do desenvolvimento dela. Os pais precisam compreender que isso é importante. Chamar a atenção é fundamental, mas não sem antes compreender a gravidade da mentira, as motivações e o contexto que levou em àquela história inventada ”.

Novamente vale o conselho da conversa, de trazer para o concreto e de lembrar a criança que há outras formas de se socializar sem precisar partir para a falsidade ou invenção. Mas, é claro, nada disso é válido na base do “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. Se os pais não valorizam ou praticam a sinceridade em casa, a criança passa a entender a mentira como algo natural. Por isso, lembre-se de sempre dar o exemplo.