Por que dia dos povos indígenas e não dia do índio?

A pergunta traz uma importante reflexão defendida por historiadores e pesquisadores. A população indígena do Brasil é formada por uma diversidade cultural e social muito rica, porém pouco conhecida. Cada grupo indígena tem seu modo de vida, sua própria cultura, língua mostrando diferentes costumes, tradições e crenças.

O termo índio, assim, anula toda a diversidade de povos indígenas existentes no Brasil.

Mas como surgiu o termo índio?

O nome índio, utilizado para nominar estes povos nativos da América, é resultado do julgamento equivocado de Cristóvão Colombo que em 1492 acreditou ter chegado até as Índias e não a um continente novo. Ao utilizar o termo índio para se referir a todos os habitantes da terra recém-descoberta de uma forma geral, os portugueses não reconheciam e caracterizavam as variações de etnias, culturas e grupos nativos.

“Quando a gente chama alguém de índio, não ofende só uma pessoa, ofende culturas que existem há milhares de anos. Esse olhar linear empobrece nossa experiência de humanidade”, afirmou Daniel Munduruku, Doutor em Educação pela USP, Pós-Doutor em Literatura pela Universidade de São Carlos e autor de 52 livros, em entrevista concedida na 63ª Feira do Livro de Porto Alegre (2017).

Há alguns anos a Escola Espaço Educar proporciona aos alunos vivências indígenas e vem trazendo essa reflexão para comunidade escolar a fim de fomentar a discussão acerca da diversidade étnica, social e cultural dos povos indígenas brasileiros.

Curiosidades:

  • Atualmente existem mais de 250 povos indígenas no Brasil. Mais de 890 mil pessoas, falando mais de 150 línguas indígenas!
  • Segundo site Povos Indígenas no Brasil, atualmente em Alagoas vivem 8 grupos: Jiripancó, Kalankó, Karapotó, Kariri-Xokó, Tingui Botó, Tuxá, Wassu e Xukuru-Kariri
  • Atualmente, os povos indígenas do Brasil são muitos, vivem na cidade e no campo, exercendo diversas profissões, ou moram nas aldeias. Precisamos conhecê-los para romper alguns preconceitos e estereótipos que existem sobre essas populações.
  • Segundo o Censo IBGE 2010, os povos indígenas somas 896.917 pessoas. Destes, 324.834 vivem em cidades e 572.083 em áreas rurais, o que corresponde aproximadamente a 0,47% da população total do país.

Fontes:

Povos Indígenas no Brasil (socioambiental.org)

InfoEscola – Navegando e Aprendendo – InfoEscola

ISA – Instituto Socioambiental | Socioambiental se escreve junto…

Daniel Munduruku: “Eu não sou índio, não existem índios no Brasil” | Nonada

 

Entrevista:

Entrevistamos Ivanildo, representante do grupo Dzubucua, da etnia Kariri-Xocó (que vive em Porto Real do Colégio) para saber a importância da data e quais pautas são relevantes para a comunidade Kariri Xocós:

EEE – O que você pensa sobre a data 19 de abril na sociedade? Pode apontar pontos positivos e negativos?
Ivanildo – Há 78 anos foi decretado no governo do presidente Getúlio Vargas que no dia 19 de abril seria comemorado o dia do índio. Desde então a sociedade presta homenagens à cultura indígena, muitas das vezes de formas estereotipadas, utilizando da cultura indígena como mitos e sendo confundidas com histórias folclóricas. A visibilidade indígena começou a ter força há pouco tempo, quando os próprios passaram a ser inseridos na sociedade e sentem a necessidade de ocupar seu espaço e contar sua versão da história que até então vinha sendo contada pelos europeus (colonizadores). Isso tornou uma luta incansável na quebra do estereótipo criado e passado à sociedade em sua formação. Mostrar a realidade dos povos nativos do Brasil, mostrar que o Brasil não foi descoberto e sim invadido, que nasceu de ações desumanas e egoístas. Em virtude aos fatos (sic) buscamos através desse dia, onde temos maior visibilidade, trazer o foco pra nós, debater sobre a nossa realidade e necessidades. Enfrentando o esquecimento durante o restante do ano, buscamos trazer que todos os dias é dia dos povos nativos.

EEE – Quais as principais pautas e questões são levantadas e discutidas hoje em dia, para os Kariri Xocós?
Ivanildo – Adaptação à nova realidade tecnológica e dificuldade ao acesso de alguns serviços por meio virtual, dificuldade de adaptação do ensino escolar remoto, por consequência da carência da comunidade ao acesso às tecnologias e busca de novos meios de geração de renda.

EEE – De que forma a pandemia impactou o grupo Dzubucuá e à comunidade dos Kariri Xocós?
Ivanildo – O maior propósito do grupo é disseminar a cultura do nosso povo, trazendo a verdade dos fatos, com o objetivo da valorização cultural, com a nova realidade que nos encontramos de um mundo virtual, a adaptação com a tecnologia impactou diretamente os trabalhos realizados pelo grupo os quais tinham como principais instrumentos as apresentações culturais e palestras em eventos e escolas. A geração de renda como consequência desse trabalho foi extinta temporariamente. O isolamento social trouxe uma nova realidade pra toda sociedade que aos poucos buscamos nos adaptar, com a busca a novos apoios e mantendo os antigos procuramos dar continuidade ao trabalho em um novo rítmo.

EEE – Qual seu maior sonho?
Ivanildo – Busco uma sociedade igualitária, onde as riquezas naturais tenham sua verdadeira valorização.